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25 de abril de 1974, o dia em que os militares deram um golpe para entregar a democracia ao povo português


Publicada em 25/04/2024 ás 15:50:41
BBC
Imagem de 1974 mostra multidão saudando militares na Revolução dos Cravos

À 1h30 da madrugada de 25 de abril de 1974, na Escola Prática de Cavalaria de Santarém, o capitão Salgueiro Maia reúne as suas tropas e relata o golpe militar que andava há meses a ser preparado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) e que ia ter lugar essa manhã. Não sabe como abordar os seus homens e o faz com humor.

“Há várias modalidades de organização dos estados: há o estado socialista, o estado comunista, o estado capitalista e o estado a que isto chegou. Eu proponho acabar com o estado a que isto chegou. Vamos para Lisboa acabar com isto. Quem quiser vir comigo vai formar lá fora, quem não quiser fica aqui”. Todos foram.

O “estado a que isto chegou” era uma ditadura de 48 anos que tinha submergido a população na miséria e no obscurantismo, com um regime repressivo, sem liberdade de expressão e que condenava uma geração de homens a uma guerra colonial há muito perdida, mas que o regime recusava acabar.

O ditador António de Oliveira Salazar já tinha sido substituído por Marcelo Caetano em 1968, mas a “primavera marcelista” – como ficou conhecido este período – que tinha chegado cheia de promessas de renovação, demorava a acontecer. E um conjunto de capitães do exército, tinha decidido que era hora de mudar.

“O difícil foi escolher quem podia ir na coluna militar, porque não podiam ir todos”, lembra o coronel Carlos Maia Loureiro, que era naquela altura capitão. A coluna, que teria o papel principal no golpe militar, saiu de Santarém com 160 homens, 10 viaturas blindadas, 12 viaturas de transporte, 2 ambulâncias e um jipe. Às 5h50 da manhã, a coluna chega ao Terreiro do Paço, na baixa de Lisboa. Se passariam quase seis horas de tensão.

“O momento mais crítico foi a chegada ao Terreiro do Paço de uma força do regime comandada pelo brigadeiro Junqueira Reis, que dá ordem a um tanque M47 blindado para disparar sobre nós. O capitão Salgueiro Maia mete uma granada no bolso e sai em direção ao tanque para dialogar... eu fui atrás dele e ainda hoje não sei porquê”, lembra Maia Loureiro.

Naquele momento, Salgueiro Maia - como contaria o próprio anos mais tarde -, está disposto a detonar a granada e tornar-se um mártir, pensando que assim talvez consiguiria a vitória do golpe. Mas não é preciso. O oficial que comandava o blindado se recusou a disparar e as forças do regime se renderam.

A missão no Terreiro do Paço está cumprida e a coluna militar volta a se formar para ir rumo ao Quartel do Carmo, onde o governo de Marcelo Caetano se tinha refugiado.

“No caminho começamos a ver uma multidão pelas ruas. Gente de todas as idades, em festa, subiam nas viaturas, vinham nos abraçar, nos agradecer... ainda hoje me emociono quando penso nisso”, recorda o coronel.

Foi nesse percurso que começaram a aparecer os primeiros cravos vermelhos, oferecidos por Celeste Caeiro, uma mulher apanhada de surpresa pela revolução. Os militares recebiam as flores e as colocavam no cano das espingardas, dando inicio, sem saberem, à iconografia da Revolução dos Cravos.

Em menos de cinco horas, o governo se rendeu: Marcelo Caetano entregou o poder ao general Spínola e saiu do quartel escoltado pelos militares do MFA. O golpe militar estava concluído.

O golpe que se materializou naquela quinta-feira, 25 de abril de 1974, estava sendo planejado há alguns meses.

“As primeiras reuniões começaram por reivindicações de ordem corporativista, por causa de alterações legislativas promovidas por Marcelo Caetano”, explica Luís Nuno Rodrigues, professor do departamento de História do ISCTE.

“Mas, na verdade, existiam motivações mais profundas e o MFA rapidamente adquiriu uma dimensão mais política”, acrescenta ele.

Além das modificações legislativas, nas reuniões começa a se falar sobre a guerra colonial, um conflito de 13 anos para o qual parecia não haver solução à vista.

“Havia militares que defendiam uma solução política para a guerra e isso começa a ser abordado devagar. E, depois, havia a questão do prestigio das Forças Armadas, porque a população não gostava de nós”, conta o tenente-coronel Vasco Lourenço, um dos defensores do golpe militar.

“A certa altura o caminho fica claro. A população olhava para nós como o suporte de um regime repressivo que impunha a guerra e a ditadura. Se queríamos recuperar o prestígio tínhamos que abandonar essa imagem. E isso só se conseguia com um golpe de Estado: acabar com a ditadura, dar uma solução política à guerra e criar condições para a democracia e a liberdade em Portugal”, explica Lourenço.

Esta começa a ser a posição majoritária no círculo de jovens oficiais, sobretudo entre os capitães.

“São oficiais intermediários, com muitos anos de guerra colonial, que conhecem muito bem a situação na África e que decidem acabar com o regime para democratizar o país”, diz Francisco Ruivo, pesquisador do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

“A própria questão geracional é importante: são homens de 30, 40 anos, uma geração muito diferente da cúpula das Forças Armadas, que eram pessoas mais velhas e mais conservadoras”.

 

Por Diário da Feira via BBC
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